O Brasil registrou em 2024 uma leve alta no número de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil, interrompendo momentaneamente uma tendência de queda, embora as atividades de maior risco para esse público tenham continuado a recuar. É o que mostram os dados da Pnad Contínua: Trabalho de Crianças e Adolescentes, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 19 de setembro de 2025. Correio Braziliense+4Agência Brasil+4Agência de Notícias – IBGE+4


Números principais

  • Em 2024, 1,650 milhão de crianças e adolescentes estavam em situação de trabalho infantil no Brasil — 34 mil a mais que em 2023, uma alta de 2,1%. Correio Braziliense+2Agência Brasil+2
  • Esse contingente equivale a 4,3% da população brasileira de 5 a 17 anos; em 2023 esse percentual era de 4,2%. Agência Brasil+1
  • Apesar do aumento em 2024, no acumulado entre 2016 e 2024 houve uma queda de 21,4% nesse indicador. Agência Brasil+1

Trabalho infantil perigoso e suas tendências

  • As chamadas piores formas de trabalho infantil, definidas pela Lista TIP (que inclui atividades com risco à saúde, integridade física, ambiente insalubre etc.), envolveram 560 mil crianças e adolescentes em 2024.
  • Esse número representa o menor patamar da série histórica desde 2016. Houve queda de aproximadamente 5,1% em comparação a 2023, quando eram 590 mil pessoas nessa situação.

Perfil demográfico, regional e jornada de trabalho

  • A faixa etária de 16 a 17 anos concentra a maioria das crianças e adolescentes em trabalho infantil — 55,5% do total.
  • Em 2024, o percentual de adolescentes de 16 a 17 anos nessa condição subiu de 14,7% em 2023 para 15,3%.
  • Crianças e adolescentes pretos ou pardos representam cerca de 66,0% do total em trabalho infantil, bem acima da proporção desse grupo na população geral de 5 a 17 anos (≈ 59,7%).
  • Quanto ao gênero, meninos formam 66,0% do contingente em trabalho infantil, enquanto meninas correspondem a 34,0%.
  • Em termos regionais, o Nordeste tem o maior número absoluto — cerca de 547 mil crianças e adolescentes nessa situação em 2024, aumento de 37 mil em relação a 2023.
  • A região Norte tem a maior proporção relativa (6,2%) de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em trabalho infantil. Já o Sudeste apresenta o menor percentual (3,3%).

Jornada de trabalho e escolaridade

  • Do total em trabalho infantil, 41,1% trabalhavam até 14 horas semanais, e 19,5% trabalhavam 40 horas ou mais por semana. Enfaque de horas maiores correlaciona com renda maior, embora geral seja baixa.
  • Em domicílios que recebem o Bolsa Família, a prevalência de trabalho infantil é de 5,2%, acima da média nacional, embora o indicador entre beneficiários tenha diminuído ao longo da série histórica.
  • A escolaridade sofre impacto: embora a maioria (88,8%) das crianças e adolescentes em trabalho infantil sejam estudantes, a frequência escolar diminui com o aumento da idade. Por exemplo, entre os de 16-17 anos em trabalho infantil, 81,8% frequentam a escola, enquanto na população geral dessa idade esse percentual é 90,5%.

Avaliação e desafios

Especialistas apontam que esse aumento modesto em 2024 não permite afirmar, até o momento, que a tendência de queda no trabalho infantil foi revertida.

No entanto, o país se distancia da meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que tem como prazo o ano de 2025 para erradicar todas as formas de trabalho infantil. O desempenho de 2024 mostra que esse objetivo não será alcançado dentro do prazo, salvo esforço intensificado.

A redução no número de casos de trabalho perigoso é vista como progresso, mas os índices ainda continuam elevados em várias regiões, entre populações pretas/pardas, adolescentes e aqueles em situação de vulnerabilidade. A jornada excessiva, irregularidades nas condições de trabalho e impacto sobre a educação seguem como desafios centrais.


Conclusão

Embora o Brasil registre progresso no combate às piores formas de trabalho infantil, com queda contínua desde 2016, o pequeno aumento em 2024 do número de crianças e adolescentes trabalhando em qualquer forma de trabalho infantil evidencia riscos de estagnação ou retrocesso. As desigualdades regionais, raciais, de gênero e de idade reforçam a necessidade de políticas públicas mais focalizadas, fiscalização e ampliação de programas sociais que protejam esses jovens — especialmente nas regiões Norte e Nordeste e entre famílias em vulnerabilidade socioeconômica.

+ Não há comentários

Adicione o seu