O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, revelou que a sobretaxa de 50% proposta pelos Estados Unidos para produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025, pode trazer desequilíbrios no mercado interno, queda na renda dos produtores e risco para cadeias exportadoras estratégicas.


1. Suco de laranja: o impacto mais imediato

  • O suco é o item mais exposto: os EUA já aplicam uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada; com o adicional de 50%, os custos podem inviabilizar a competição do produto brasileiro no mercado americano, o segundo maior destino das exportações nacionais.
  • O Brasil fornece cerca de 80% do suco consumido nos EUA, que importam 90% do total consumido internamente.
  • Com previsão de safra recorde em 2025/26 — 314,6 milhões de caixas, alta de 36,2% — este superávit pode pressionar estoques e cotações internas se o acesso ao mercado americano for bloqueado.

2. Carne bovina: frete para outro reduto?

  • Os EUA são o 2º maior destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China (49%). Representam 12% das vendas do país.
  • De março a abril, os EUA compraram mais de 40 mil toneladas por mês, em níveis recordes — mas recentemente houve queda nos embarques, com realocação de exportações para a China e outros mercados.

3. Café: cadeia sob pressão

  • Os EUA importam 25% do café brasileiro, principalmente da variedade arábica — essencial à indústria local americana.
  • Sem produção própria, qualquer elevação nos custos de importação afeta torrefadoras, cafeterias, indústria de bebidas e varejo nos EUA.
  • O Cepea ressalta que excluir o café do pacote tarifário seria estratégico tanto para a cafeicultura do Brasil quanto para segurança da cadeia nos EUA.
  • Em meio às incertezas, produtores brasileiros diminuíram vendas para aguardar definições tarifárias.

4. Frutas frescas: manga e uva em alerta

  • A manga é apontada como principal produto de risco imediato: seu principal canal de exportação aos EUA começa em agosto e embarques estão sendo adiados por conta da indefinição.
  • Uvas, com safra iniciada em setembro, também estão em vigilância.
  • O Cepea alerta que frutas destinadas aos EUA podem ser redirecionadas para Europa ou absorvidas internamente, pressionando os preços pagos aos produtores.

5. Danos à cadeia e mercado interno

  • A sobretaxa pode causar desequilíbrios no mercado interno brasileiro, com queda de preços ao produtor, aumento de estoques e retração na produção.
  • Segundo o Cepea, é urgente uma articulação diplomática para revisão ou suspensão das tarifas sobre produtos do agronegócio, por motivos comerciais e estratégicos para ambos os países.

6. Situação dos embarques e reação logística

  • Já em julho, exportadores intensificaram operações: Porto de Santos reportou crescimento de até 96% nos embarques de proteína animal, 17% de café e 49 mil t de celulose, tentando antecipar envios antes de agosto — mas embarques feitos em julho podem não chegar a tempo.
  • Cerca de US$ 160 milhões em carne bovina estão em risco, além de impactos estruturais nos setores de pescados, madeira e café.
  • Em pesca, 1.500 toneladas deixaram de ser embarcadas desde 10 de julho. A maioria das empresas não tem mercados alternativos consolidados.
  • No setor madeireiro, empresas enfrentam contratos cancelados, milhares de contêineres retidos e férias coletivas.

Contexto global

Complementando a análise do Cepea, a imprensa internacional aponta impactos imediatos nos EUA:

  • Nos EUA, os futuros de suco de laranja se valorizaram mais de 10% e o café subiu 6% após o anúncio, refletindo a dependência de fornecedores como o Brasil (75% do suco global, 30% do café importado pelos EUA).

Conclusão

O “tarifaço” norte-americano — sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros — coloca em risco diversos segmentos do agronegócio nacional, comprometendo receitas, produzindo desequilíbrios internos e pressionando as cadeias produtivas. O setor técnico e setores privados defendem resposta diplomática imediata, argumentando que a segurança alimentar e estratégias econômicas dos EUA dependem do fornecimento brasileiro.

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