Economia à Beira do Abismo

No Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, realizado em 20 de junho de 2025, o presidente russo Vladimir Putin foi enfático: “A economia da Rússia não pode entrar em recessão sob quaisquer circunstâncias.” Ele enfatizou que o crescimento equilibrado — com inflação moderada, desemprego baixo e dinamismo econômico — é a “tarefa mais importante” a ser perseguida imediatamente .

Putin destacou que, apesar de especialistas estarem apontando para riscos de estagnação e recessão, tais cenários são “inaceitáveis” e requerem políticas fiscais, tributárias e monetárias bem calibradas.


Indicadores Econômicos em Alerta

  • Inflação: O índice de preços ao consumidor alcançou 9,59% ao ano, distante da meta de 4% estabelecida pelo Banco da Rússia.
  • Taxa de juros: O Banco Central elevou os juros a níveis inéditos desde os anos 2000 (21% em outubro de 2024), cortando para 20% recentemente — uma redução considerada tímida pelo governo.
  • Crescimento do PIB: No primeiro trimestre de 2025, o crescimento anualizado foi de apenas 1,4–1,5%, o menor patamar dos últimos dois anos .

De acordo com o ministro da Economia, Maxim Reshetnikov, os sinais de recessão estão ecoliciando — com sentimentos negativos no mercado e capacidade ociosa — e as decisões de política monetária definirão se o país entrará num ciclo negativo.


Pressão para Reduzir Juros

Figuras-chave do governo e do setor financeiro exigiram cortes mais profundos:

  • Deputado‑Primeiro‑Ministro Alexander Novak defendeu que é hora de “aquecimento econômico” via juros mais baixos.
  • German Gref, CEO do Sberbank — maior banco da Rússia, responsável por 60% dos financiamentos — alertou que não financiaram um único novo projeto em 2025, exigindo reduções mais rápidas na taxa de juros.

Problemas adicionais: queda de 14% no consumo de aço no período janeiro–maio de 2025, e aumento no número de falências .


O Peso dos GASTOS MILITARES

O Fórum também revelou o efeito dos gastos com defesa em vigor desde a invasão da Ucrânia:

  • A elevada despesa militar impulsionou o crescimento recente, mantendo o desemprego baixo — na casa dos 3% — e levando renda a regiões mais pobres por bônus e compensações.
  • No entanto, analistas alertam que esse modelo é insustentável e que a economia russa está dependente do armamento como impulsionador primário — não havendo crescimento real no setor civil .

Putin refutou que o setor de defesa seja o único motor do crescimento, lembrando que haviam avanços também nas indústrias financeiras e de tecnologia da informação .


Desafios e Cenários

Principais riscos identificados:

  1. Inflação acima da meta;
  2. Juros elevados freando investimentos produtivos;
  3. Setor industrial em desaquecimento;
  4. Déficit de investimento privado;
  5. Dependência excessiva dos gastos militares.

Sergey Inozemtsev, economista russo, alerta para a possibilidade de “stagflação” (inflação elevada com baixo crescimento), a menos que ocorra uma reestruturação urgente — seja por via bélica ou pacífica.


Posicionamento do Governo

Enquanto Putin mantém o discurso otimista, reconhecendo a queda da inflação dos dois dígitos para cerca de 9,6%, ele reforça o objetivo de uma transição à “auto-suficiência econômica”, mesmo diante da saída de empresas ocidentais e sanções .

O governo admite que a confiança estrangeira não retornará facilmente, e intensifica medidas para equipar e modernizar o complexo militar-industrial, o mercado financeiro e programas internos de investimento civil .


Conclusão

No SPIEF 2025, o tom foi claro: a Rússia enfrenta um risco real de recessão. O desafio é ajustado entre:

  • Cortar juros para estimular investimentos,
  • Conter a inflação com prudência,
  • Reformular políticas frente à dependência militar e sanções,
  • Buscar um crescimento equilibrado e sustentável.

Putin deu o comando: “recessão não será permitida”, e os próximos meses serão decisivos para ver se as reformas e estímulos serão suficientes.

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