Contexto e estatísticas

A partir de 26 de maio, com a implementação de um novo sistema de distribuição de alimentos através da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) — apoiada por Israel e Estados Unidos — o Escritório de Direitos Humanos da ONU registrou ao menos 410 palestinos mortos enquanto tentavam obter mantimentos em pontos controlados por essa organização.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, afiliado ao Hamas, nessa terça-feira (24), mais 50 pessoas foram mortas, elevando o total para 516 mortes em apenas um mês desde que o modelo foi implementado. Relatos informam que civis, ao buscarem alimentos, “sobem sobre corpos” na tentativa de sobreviver.


Críticas da ONU e caracterização do conflito

O porta-voz do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Thameen Al-Kheetan, afirmou que o mecanismo de ajuda tornou-se um instrumento militarizado de guerra, transformando o alimento em arma e impedindo civis desarmados de acessar recursos básicos — condutas que, segundo ele, podem configurar crimes de guerra.

Al-Kheetan denunciou a “escolha desumana entre morrer de fome ou de balas” e exigiu que Israel cesse os disparos contra civis e permita acesso livre e conforme o direito internacional a suprimentos essenciais.


Perspectivas humanitárias

  • A relatora especial da ONU para Palestina, Francesca Albanese, alertou para uma “armadilha mortal”, comparando os pontos de distribuição a um “experimento cruel” que transformou a busca por comida em risco de vida.
  • Organização como UNICEF e WFP já operavam mais de 400 pontos com relativa segurança. Desde a mudança, esses modelos foram substituídos pela GHF — considerada ineficaz e perigosa — aumentando o risco de incidentes fatais.
  • Grupos internacionais classificam a prática como “jogos da fome” devido ao risco iminente representado para populações civis.

Impactos diretos sobre a população

  • Desde janeiro de 2024, a situação humanitária agrava-se: o cerco causado por cortes de suprimentos e bloqueios seguidos de ataques a infraestruturas destruiu padarias, moinhos e armazéns .
  • Atualmente, estima-se que 2,1 milhões de moradores de Gaza enfrentam insegurança alimentar, com milhares de crianças em risco de desnutrição aguda.

Cenário legal e diplomático

  • A ONU qualificou o “uso da fome como método de guerra” como crime internacional de direitos humanos.
  • Israel nega culpabilidade, atribuindo parte da culpa a “operadores do Hamas nas imediações” das filas, embora relatos independentes contestem essa justificativa .

Conclusão

A morte de mais de 400 pessoas apenas pela tentativa de buscar alimentos constitui uma grave crise humanitária e pode ser enquadrada como crime de guerra, segundo autoridades da ONU. A substituição dos tradicionais pontos de distribuição por uma fundação privada, sob supervisão militar, parece ter transformado a ajuda alimentar em um perigo mortal — colocando os palestinos diante de uma escolha brutal entre morrer de fome ou se arriscar em filas letais.

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