Um estudo recente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com base em dados de mais de 190 países, revela que, pela primeira vez na história, a obesidade infantil superou a desnutrição entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos. Esse marco foi verificado em 2025, conforme divulgado em relatório intitulado “Feeding Profit: How Food Environments are Failing Children”.
Principais números
- Estima-se que 1 em cada 5 crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos ou cerca de 391 milhões de pessoas está acima do peso.
- Destes, aproximadamente 188 milhões já se encontram em situação de obesidade.
- A prevalência de desnutrição entre esse grupo (5-19 anos) caiu de quase 13% em 2000 para 9,2% em 2025.
- No mesmo período, a taxa de obesidade saltou de cerca de 3% em 2000 para 9,4% em 2025.
Distribuição regional e casos de destaque
- A obesidade supera a desnutrição em quase todas as regiões do mundo, exceto na África Subsaariana e no Sul da Ásia, onde a desnutrição ainda prevalece mais que a obesidade.
- Alguns dos mais altos índices de obesidade foram observados em ilhas do Pacífico: em Niue, por exemplo, 38% das crianças/adolescentes entre 5-19 anos têm obesidade; nas Ilhas Cook, 37%; em Nauru, 33%.
- Em países de renda alta ou média-alta, os índices também são elevados: Chile registra 27%, os Estados Unidos 21%, e os Emirados Árabes Unidos também cerca de 21% para essa faixa etária.
Situação no Brasil
- A transição de padrão nutricional no Brasil também é evidente há algumas décadas. Em 2000, cerca de 5% das crianças/adolescentes (5-19 anos) tinham obesidade, contra 4% em desnutrição.
- Até 2022, a taxa de obesidade no Brasil já se tornou cerca de 15% nessa faixa etária. A desnutrição aguda, por sua vez, caiu para aproximadamente 3%.
- O sobrepeso (que inclui obesidade) no país também aumentou substancialmente: dobrou de 18% em 2000 para 36% em 2022.
Fatores que contribuíram
O relatório do UNICEF destaca algumas causas centrais para essa mudança:
- A disseminação de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, gorduras ruins, sal e aditivos, que têm se tornado parte crescente da dieta infantil.
- Mudança nos ambientes alimentares: nas escolas, no comércio local, no marketing digital e nas propagandas que direcionam crianças e adolescentes para produtos menos saudáveis.
- Acesso desigual a alimentos saudáveis e seguros, sobretudo em países de renda baixa ou média, onde alimentos ultraprocessados são às vezes mais baratos ou mais acessíveis que alternativas mais nutritivas.
Impacto e consequências
- Do ponto de vista da saúde, obesidade infantil está associada a doenças crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer, bem como problemas de saúde mental.
- Há impacto também econômico. Estimativas indicam que, a menos que intervenções sejam feitas, os custos relacionados à saúde e à produtividade poderão se tornar muito elevados.
Medidas propostas
O UNICEF propõe uma série de ações para frear esse avanço:
- Regulamentação de propaganda de alimentos não saudáveis voltados a crianças, especialmente em ambientes escolares e na mídia digital.
- Melhoria da qualidade nutricional em refeitórios escolares, políticas de alimentação saudável em escolas.
- Fortalecimento da educação nutricional, tanto para crianças e adolescentes quanto para famílias.
- Políticas fiscais, como subsídios para alimentos saudáveis ou tributação de alimentos ultraprocessados.
Este relatório marca um ponto de inflexão global na maneira como se entende a má-nutrição. Até então, o foco muitas vezes recaía sobre a desnutrição fome, subpeso, baixo crescimento mas os dados atuais apontam que o excesso de peso tornou-se o principal desafio nutricional para crianças e adolescentes, em quase todas as regiões do mundo. Essa mudança demanda ajustes urgentes nas políticas de saúde pública, educação alimentar, bem como uma reavaliação dos ambientes nos quais as crianças crescem e se alimentam.
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