A China se firmou como o principal parceiro comercial do Brasil ao longo das últimas décadas, liderando tanto em importações quanto exportações. Em 2023, a balança bilateral atingiu US$ 159,6 bilhões, com quase um terço das exportações brasileiras tendo a China como destino. Essa relação é marcada por forte assimetria: mais de 95% dos produtos exportados pelo Brasil são commodities — soja, minério de ferro e petróleo.
Os investimentos chineses têm se diversificado nos últimos anos, abrangendo setores como energia elétrica, petróleo, infraestrutura, agricultura, tecnologia da informação e finanças. A construção de infraestrutura portuária, como o terminal agrícola da Cofco no Porto de Santos, crescente produção em áreas de energia limpa e mobilidade elétrica, além de fomentos em tecnologia inteligente e cidades conectadas, ilustram essa diversificação.
Ações multilaterais e cooperação institucional
No âmbito multilateral, o Fórum China–CELAC, realizado em maio de 2025 em Pequim, resultou em anúncios substanciais: linhas de crédito de US$ 10 bilhões para América Latina e o Caribe, denominadas em yuan, e programas de cooperação em áreas como energia limpa, inteligência artificial, 5G e cibersegurança.
Além disso, Brasília e Pequim avançam em um projeto de infraestrutura que pode transformar a logística regional: está em discussão a construção de uma ferrovia ligando o porto de Chancay, no Peru (construído por empresas chinesas), ao interior do Brasil, atravessando os estados do Acre e Tocantins e conectando-se à Ferrovia Oeste-Leste (FIOL) no litoral baiano.
Diplomacia e mediação global
A relação China–Brasil também se fortalece no plano geopolítico. Em abril de 2023, o presidente Lula realizou visita de Estado à China, reativando a parceria estratégica. Foram assinados documentos nas áreas de comércio, tecnologia, economia digital, ciência espacial e redução da pobreza. Também se discutiu a busca por meios de reduzir a dependência do dólar e ampliar o papel de Brasil e China como mediadores de conflitos globais, como o da Ucrânia.
Em agosto de 2025, Lula e Xi Jinping conversaram por telefone reforçando as cooperações no âmbito do BRICS e G20, especialmente sobre comércio agrícola — o Brasil continua sendo maior fornecedor de soja e café à China. Xi qualificou as relações bilateral como estando em seu ápice histórico.
Por fim, em 2025, Lula participou do Fórum CELAC-China, assinando acordos de cooperação de cerca de R$ 27 bilhões (aproximadamente US$ 4,8 bilhões) nas áreas de agricultura, mineração, energia e economia digital. O Brasil, apesar de manter vínculos com os EUA, demonstra capacidade de equilibrar interesses entre as potências — o governo destaca aproximações com a China lideradas pelo Estado, enquanto o relacionamento com os Estados Unidos permanece mais orientado pelo setor privado.
Considerações finais
Os investimentos chineses no Brasil não apenas cresceram em volume, mas também ganharam escala e diversificação setorial, consolidando a influência da China sobre a economia brasileira. Projetos estratégicos de infraestrutura e linhas de crédito bilaterais reforçam essa trajetória, enquanto a ascensão diplomática do Brasil junto à China reflete a busca por liderança no âmbito do Global South e da governança multilateral.
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