A Carbon Participações, empresa responsável pela administração da massa falida da Olvepar, retomou recentemente a posse de uma fábrica de processamento de soja em Cuiabá, após esta ter sido ocupada irregularmente pelo Grupo Safras, segundo decisão da 1ª Vara Cível da capital. A retomada confirma a rescisão do contrato de arrendamento firmado com a Allos Participações — realizada após a identificação de graves infrações contratuais, como subarrendamento sem autorização judicial — com um processo que já vinha se estendendo desde novembro de 2024.

Plantas abandonadas e condições críticas

Oficiais de Justiça e representantes da Carbon, ao cumprir o mandado na semana passada, encontraram a fábrica em condições precárias: sem energia elétrica, com corte de água e infraestrutura inoperante. Segundo relatório, mais de 60 caminhões permaneciam no pátio à espera de documentação e carregamento, enquanto trabalhadores e motoristas relataram banheiros sujos, acúmulo de lixo e falta de assistência, descritos como “tratamento desumano”.

O corte de energia teria sido efetuado pela Energisa por inadimplência em faturas e também em acordo de cerca de R$ 2 milhões não honrado pelo Safras. Dessa forma, as bombas de água também pararam de funcionar, agravando a situação estrutural da unidade.

A disputa na Justiça e novas sentenças

O juiz Márcio Aparecido Guedes havia, em 20 de maio, concedido a reintegração de posse com base em inadimplementos contratuais da Allos, subarrendamento irregular à Safras e perda de controle da operação — tudo sem autorização judicial — o que inviabilizava o cumprimento do Plano de Realização Extraordinária de Ativos (PREA) da Olvepar.

Apesar de um recurso do Grupo Safras ter suspenso temporariamente a decisão, liminares posteriores expedidas pela juíza Giovana Pasqual de Mello, da 4ª Vara Cível de Sinop, reafirmaram que a unidade não poderia ser classificada como “bem essencial” e autorizou sua retomada pela Carbon.

Recolocação de funcionários e retomada da operação

Em resposta ao abandono sofrido pelos trabalhadores, a Carbon distribuiu cestas básicas a cerca de 170 ex-funcionários dispensados pelo Grupo Safras, que também não quitou as rescisões contratuais. A empresa ainda sinalizou que recontratará os que desejarem retornar, desde que apresentem a carteira de trabalho regularizada. Além disso, negociações estão em andamento para que a fábrica volte a operar sob nova administração ou arrendamento, o que poderá auxiliar na quitação das dívidas junto aos credores da Olvepar.

Repercussões para o Grupo Safras

A derrota judicial representa mais um revés para o Grupo Safras, que enfrenta dívida de aproximadamente R$ 1,78 bilhão e tem o processo de recuperação judicial suspenso por indícios de fraude — conforme confirmou o STJ recentemente. O grupo ainda busca reverter a exclusão da planta de Cuiabá de sua lista de bens considerados essenciais, que incluía 14 armazéns com capacidade para 700 mil toneladas

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