O Brasil foi convidado pela França e pela Arábia Saudita para presidir um dos oito grupos de trabalho da Conferência Internacional para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e Implementação da Solução dos Dois Estados, marcada para junho na sede da ONU, em Nova York.
O anúncio ocorre logo após um período de tensão diplomática causado pelas críticas contundentes do presidente Lula a Israel. Ele chegou a qualificar as ações militares israelenses em Gaza como “genocídio premeditado”, acusação que gerou desconforto nas relações bilaterais.
Contexto histórico e diplomático
O Brasil já teve papel decisivo na criação do Estado de Israel. Em 1947, o diplomata Oswaldo Aranha, então presidente da Assembleia-geral da ONU, garantiu a aprovação da partilha da Palestina — gesto que colocou o Brasil no centro de uma decisão histórica. Agora, cerca de 78 anos depois, o país assume novo protagonismo, desta vez em prol da criação da Palestina.
Historicamente, o Brasil manteve uma posição equilibrada nas negociações Oriente Médio. No entanto, com a gestão Lula, o posicionamento passou a ser visto por muitos como mais favorável aos palestinos, especialmente após as críticas às ofensivas israelenses.
Objetivos do Grupo de Trabalho
O grupo a ser liderado por Brasil e Senegal terá pela frente a missão de:
- Promover o direito internacional como base para a criação de dois Estados;
- Debater os caminhos para a implementação da solução de dois Estados, que prevê coexistência pacífica de Israel e Palestina;
- Reunir representantes dos 193 Estados-membros da ONU, além de agências, fundos e programas do sistema das Nações Unidas e instituições financeiras internacionais.
O Itamaraty destacou que a conferência será aberta a todos os Estados-membros e instituições internacionais — um esforço diplomático amplo e inclusivo .
Oportunidade para diplomacia brasileira
Especialistas consideram a presidência deste grupo uma chance para o Brasil recuperar seu prestígio como mediador neutro, reforçando sua atuação diplomática global.
Vitelio Brustolin, professor da UFF e pesquisador em Harvard, afirma que a escolha representa:
“Uma oportunidade para reforçar o papel diplomático do país na ONU, além de ser uma forma de tentar recuperar a tradicional neutralidade brasileira”
Segundo analistas, a movimentação também pode ser encarada como esforço estratégico para manter o equilíbrio da diplomacia brasileira no Oriente Médio — sem se alinhar exclusivamente a uma ou outra das partes.
Sobre a iniciativa franco-saudita
A conferência é uma iniciativa conjunta da França e da Arábia Saudita. O objetivo é reunir apoio internacional para a criação do Estado da Palestina em uma solução territorial que inclua a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental como capital. O Brasil é um dos signatários desse plano de dois Estados.
Em dezembro de 2024, a Assembleia-Geral da ONU já havia aprovado a realização desta conferência, por ampla maioria — 157 votos favoráveis, incluindo o do Brasil
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