O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, revelou nesta terça-feira (10), durante evento da Febraban Tech em São Paulo, que está em desenvolvimento um modelo de financiamento habitacional alternativo que funcione como “ponte” para substituir a captação tradicional por meio da caderneta de poupança.

Esse movimento ocorre no contexto de uma queda progressiva dos depósitos na poupança. De janeiro a maio de 2025, houve retirada líquida de R$ 51,77 bilhões, apesar de um pequeno saldo positivo em maio (R$ 336,87 milhões). Galípolo classificou essa tendência como “definitiva e estrutural”, impulsionada por juros altos (Selic a 14,75%) e crescimento do interesse em opções mais rentáveis, como o Tesouro Direto.

Atualmente, a maior parte dos recursos da poupança é direcionada ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que financia imóveis de até R$ 1,5 milhão com taxa de até 12% ao ano. Financiamentos acima desse valor estão vinculados ao Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), que se baseia em captação via mercado, principalmente por meio de Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

A proposta do BC envolve um “processo ponte” para atrair recursos de mercado — inclusive em negociação com bancos, especialmente a Caixa Econômica Federal — criando uma nova fonte de funding até que o novo modelo se consolide.

A discussão se intensifica num momento em que o governo estuda a tributação das LCIs com uma alíquota de 5% do Imposto de Renda — atualmente, esses títulos têm isenção total. A medida faz parte das propostas fiscais do Executivo, mas enfrenta rejeição por parte do setor imobiliário, que teme impacto no custo do crédito.

O cenário

  • A caderneta de poupança perde espaço como fonte de recursos desde 2021, devido à concorrência de investimentos mais rentáveis.
  • A Selic em 14,75% torna outras aplicações mais atrativas, acentuando a saída de recursos.
  • O novo modelo visa prover estabilidade ao crédito imobiliário, crucial para a classe média.

Implicações

  • Para Galípolo, a migração de recursos indica um avanço da educação financeira, exigindo ajustes estratégicos no sistema de financiamento habitacional.
  • O processo ponte deve garantir continuidade aos empréstimos habitacionais durante a transição.
  • A criação dessa alternativa pode também mitigar efeitos de uma eventual tributação das LCIs.

Com os detalhes do modelo ainda em desenvolvimento, o mercado aguarda os próximos passos do BC e do Legislativo, que deverá debater a possível tributação dos instrumentos de crédito imobiliário.

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