O Brasil ocupa hoje duas posições extremas na América Latina e globalmente: é o país com o maior número de milionários na região, segundo o Global Wealth Report, do banco suíço UBS, e também apresenta a mais alta desigualdade, com índice de Gini entre os 56 países analisados.

Milionários em expansão, desigualdade em evidência

  • 433 mil brasileiros possuem patrimônio superior a US$ 1 milhão, cifra que coloca o país em 19º lugar no ranking mundial.
  • No panorama latino-americano, está à frente do México, que soma cerca de 399 mil milionários.
  • Entre 2023 e 2024, o número de milionários no Brasil cresceu 1,6%

Riqueza concentrada, sociedade desequilibrada

  • O índice de Gini do Brasil atingiu 0,82, o valor mais alto entre os 56 países pesquisados, igualando-se à Rússia e distancia-se de países como Alemanha (0,68), Suíça (0,67) e China (0,62)
  • O relatório também destaca que o Brasil será o 2º país do mundo, atrás apenas dos EUA, na transferência de US$ 9 trilhões por herança nos próximos 20–25 anos.

Comparativo global

  • Os principais países com mais milionários são: EUA (23,8 milhões), China (6,3 milhões), França (2,9 milhões) e Japão (2,7 milhões) – com o Brasil figurando logo atrás, em 19º lugar.
  • Globalmente, só os EUA registraram 379 mil novos milionários em 2024, ou seja, mais de 1.000 por dia.

Contexto latino-americano: uma América que perde HNWIs

Enquanto o Brasil cresce, a região enfrenta queda no número total de milionários: segundo o Capgemini World Wealth Report, a América Latina perdeu 8,5% de pessoas de alta renda em 2024, e o Brasil viu sua base de milionários recuar 13,3%. A depreciação do real (–21,6% frente ao dólar em 2024) foi um fator determinante.

Desigualdade: um legado difícil de reverter

  • De acordo com o World Inequality Lab, os 10% mais ricos deixam com 60% da renda nacional em países como Brasil, Chile, Peru e Colômbia.
  • A ONG Oxfam destaca que os seis brasileiros mais ricos detêm a mesma riqueza das metade da população mais pobre – aproximadamente 100 milhões de pessoas.
  • A desigualdade persiste apesar de avanços em transporte social e programa Bolsa Família: o coeficiente de Gini da renda caiu de cerca de 0,54 (2004) para 0,49 (2014), mas ainda permanece elevado.

Desafios e implicações

O Brasil enfrenta um paradoxo: embora gere riqueza – especialmente entre seus mais abastados –, essa riqueza se concentra e agrava o fosso social. O crescimento do número de milionários contrasta com o empobrecimento de parcelas mais vulneráveis, agravado pela valorização do patrimônio em dólar frente às oscilações do câmbio.

A presença de altos índices de herança programada implica em permanência dessa concentração, dificultando a promoção de igualdade intergeracional. A alta desigualdade afeta políticas públicas, potencial de crescimento inclusivo e coesão social.

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